O futuro com IA

Já sabemos que a cada ciclo evolutivo dos processos produtivos, se necessitam menos trabalhadores para se produzir muito mais, e, certamente, não será diferente quando a inteligência artificial (IA) começar a ser utilizada para valer pelas empresas. A diferença é que desta vez não somente as atividades manuais serão alvo de mudanças, mas também um grande número de atividades cognitivas, como a produção de textos, a criação de imagens e vídeos, a análise de dados, o desenvolvimento de aplicações, a resolução de problemas e muito mais.

Diante disso, o cenário comumente propagado é aquele o mais distópico possível, onde há a substituição completa da mão-de-obra humana pela máquina, o desemprego em massa, e a falência da nossa sociedade. Afinal sem empregos não há renda, sem renda não há consumo, e sem consumo não há necessidade de se utilizar nenhuma inteligência, mesmo as artificiais, em qualquer processo produtivo. O remédio dado em excesso vira um veneno. Mas será que este é o único cenário possível ?

Desde que o mundo é mundo, pensamos e agimos de acordo com as nossas emoções e sentimentos. Portanto se engana quem tenta reduzir o ser humano a um corpo meramente racional, esquecendo-se que somos indivíduos muito mais complexos. Empatia, compaixão, altruísmo, criatividade, curiosidade, capacidade de amar, visão simbólica são apenas algumas das características humanas que de fato moldam a nossa sociedade, e que são difíceis de serem replicadas artificialmente.

O cenário mais provável é que as vagas de emprego continuarão existindo, mas elas exigirão muito mais dos nossos valores éticos e morais, da nossa capacidade de inovar, de produzir aquilo que é belo, de unir pessoas, de fomentar propósitos. Novamente seremos empurrados cada vez mais para cima da pirâmide, em direção daquelas atividades não só mais cognitivas, mas também mais humanizadas.

Tomemos a título de exemplo as atividades ligadas a inovação. A lógica e a análise combinatória, apesar de excelentes para nos revelar segredos escondidos em uma vasta quantidade de dados, servem muito pouco quando precisamos criar algo novo. Afinal as ideias originais de Einstein não são decorrentes apenas de uma releitura dos avanços de seu predecessor - Newton. Criatividade e inovação precisam de inspiração, uma característica humana, que, segundo Platão, e tantos outros pensadores, emerge quando nos elevamos, quando nos conectamos com o mundo das ideias, quando a nossa alma se aproxima do Divino.

De fato o futuro com IA não se trata de substituição, mas sim de libertação. Finalmente os seres humanos terão tempo para se dedicarem a aperfeiçoar aquilo que mais falta na nossa sociedade - mais humanidade. Acontece que mudanças não são fáceis, quanto mais aquelas que pretendem mudar a nós mesmos. É necessário um bocado de auto-conhecimento, o estudo das verdades universais e o desenvolvimento de virtudes. É aí que surgem o medo, a resistência e também os cenários distópicos.

Já faz tempo que sobreviver e perpetuar a espécie é muito pouco. Temos que universalmente prosperarmos, temos que subir o próximo degrau, temos que aproveitar estes avanços tecnológicos para nos debruçarmos verdadeiramente nas origens dos problemas, aqueles que atormentam as nossas almas. É o egoísmo que produz a fome, a falta de empatia que produz a solidão, o medo que gera a violência, e a vaidade que gera as guerras.

Não é fácil prevermos as consequências do uso da inteligência artificial no nosso cotidiano, mas uma coisa é certa, em hipótese alguma devemos deixar passar a chance de nos tornarmos cada vez mais humanos.

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