Tempo de Qualidade

Aristóteles, filósofo grego nascido em 322 A.C, foi o primeiro a se questionar sobre o que é o tempo. Para ele, o tempo é a medida, a contabilização da mudança, é o vestígio do movimento. Se nada muda, então o tempo não passa.

Já Newton, cientista inglês, nascido mais de 21 séculos depois, pensava exatamente o contrário, e, para ele, o tempo é algo absoluto, que flui por si só, independentemente dos eventos e de seus acontecimentos. Para Newton, o tempo não é uma evidência dos nossos sentidos, mas sim uma construção intelectual, que permitira o advento da física moderna.

Impulsionada pelos livros didáticos de todo o mundo, a definição de Newton tornou-se a forma comum de pensarmos o tempo até hoje, apesar de não ser a intuição antiga e natural da humanidade. Fomos induzidos a pensar que o tempo possui apenas uma dimensão quantitativa e matemática, esquecendo que ele também possui uma dimensão qualitativa e relativa, ambas coexistindo e moldando a nossa realidade.

“Quanto tempo dura o eterno?”, pergunta Alice. “Às vezes, apenas um segundo”, responde o Coelho. Na nossa experiência pessoal o tempo é elástico. Horas voam como minutos, e minutos podem se impor lentos como se fossem séculos. A diferença entre uma e outra percepção está ligada à nossa consciência. Apenas quando nossa consciência se expande é que percebemos o tempo qualitativo, no contrário, há apenas tempo quantitativo.

Fica fácil entendermos isso ao imaginarmos um colega do ensino médio, naquela época infantil, egoísta, e imaturo. Passam-se 20 anos, e reencontramos este mesmo colega apresentando os mesmos comportamentos psíquicos do tempo do colégio. Para ele passou apenas o tempo quantitativo, mas pouco avançara no tempo qualitativo. A sensação de fato é de que ele não saiu do lugar, é de que a consciência dele não evoluiu, de que ele não amadureceu, enfim, de que ele “perdeu tempo”.

Sabemos que, sem a imposição de alguma força contrária, tudo caminha para a desordem. Para comprovar esta afirmação, basta deixarmos um jardim sem cuidados, um automóvel sem a manutenção devida, um computador sem as atualizações obrigatórias, ou mesmo o quarto dos nossos filhos sem a limpeza diária. Será o caos !

Desta forma, é necessário impormos algumas ações na nossa vida, para que possamos acordar, nos tornarmos conscientes, e passarmos a “viver” também no tempo qualitativo, avançando em direção aos ideais humanos ligados a busca de valores, virtudes e sabedoria. Precisamos agir, e, para isso, nada melhor que revisitarmos nossos sonhos, estabelecendo metas e objetivos que nos levem às suas realizações.

Sonhar grande é ótimo e necessário, mas o peso de uma grande mudança, ou de um grande projeto, pode nos fazer desistir já no começo da caminhada, por isso o ideal é desdobrarmos os nossos sonhos em metas e objetivos menores, factíveis, e de curta duração. Aqui o que mais importa é acertarmos a direção, e uma vez estabelecida, trata-se de darmos um passo de cada vez, celebrando e se motivando com cada conquista obtida durante o trajeto.

Se o sonho é emagrecer 20kg, o ideal é estabelecer uma meta semanal de perder 300g; Sonha em comprar uma casa própria, tente poupar 10% do seu salário todo mês; Sonha em ter uma vida mais saudável, procure fazer 30min de exercícios diários; Sonha em crescer no seu emprego, dedique pelo menos 1 hora por dia para adquirir novos conhecimentos; Sonha em entregar aquele projeto no prazo, divida as atividades em tarefas menores, e as controle diariamente.

Tudo bem se os nossos sonhos, metas e objetivos se alterarem com o passar do tempo, afinal é natural que durante a caminhada a gente passe  por novas experiências que ampliem a nossa consciência, e modifiquem a nossa visão dos ideais a serem buscados. É subindo o primeiro degrau, que tomamos consciência do segundo degrau, e nos habilitamos a subi-lo, e assim sucessivamente.    

A gestão do tempo, com todas suas dimensões e complexidades, é mais um assunto que deveria ser melhor abordado pelo setor educacional, pois é algo que tem o potencial verdadeiro de nos ajudar a focarmos no que verdadeiramente importa, e a desenvolvermos habilidades que podem transformar a nossa realidade. No mínimo aprenderíamos que uma agenda repleta de momentos que nos afastam dos nossos sonhos, metas e objetivos são e sempre serão apenas tempo desperdiçado.

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