Evitando o apagão de talentos

Vender, contratar, entregar, nesta ordem. Esta tem sido a lógica com a qual grande parte do mundo corporativo tem prosperado, mas parece que este modelo já mostra seus sinais de esgotamento.

Cada vez mais percebemos a escassez de profissionais qualificados no mercado de trabalho para atender todo o tipo de demanda especializada, e, principalmente, naquelas áreas e segmentos ligados à tecnologia da informação, uma disciplina que virou estratégica para todas as empresas em todas as indústrias.

Em uma área onde os conhecimentos precisam ser atualizados em média a cada 2 anos, as previsões para o futuro não são nadas animadoras. Com as tecnologias digitais impulsionando a demanda para cima, estimasse que até 2030 a falta de mão de obra especializada deva alcançar os inimagináveis 85,2 milhões de postos de trabalho no mundo.

Algumas iniciativas já foram  tomadas na direção de evitarmos este apagão de talentos, mas é importante entendermos que a educação tradicional não dará conta de tanta demanda, pelo simples fato de que endereça apenas a parcela da população que pode se dar ao luxo de tomar riscos financeiros em prol da sua formação profissional, sendo necessário atacarmos este problema a partir de novos ângulos.

A aquisição do conhecimento não é algo monolítico, binário, mas sim é algo que possui uma gradação, ou seja, que varia e evolui pouco a pouco, do grau mais baixo, o desconhecimento completo, até o grau mais alto, o domínio, a proficiência sobre determinado assunto.

Acontece que os desafios profissionais também não são monolíticos. A maioria esmagadora das atividades podem ser divididas em tarefas menores, organizadas em diversos graus de complexidade, as quais exigem determinados graus de conhecimento para serem executadas.

Todo ser humano quando se propõe a começar qualquer empreendimento, seja caçar, plantar, construir, ou codificar, tem a tendência de procurar montar a sua “equipe de trabalho” preferencialmente com indivíduos que possuem um grau maior de conhecimento, mas esta é uma péssima escolha.

Conduzir alguém das gradações inferiores do conhecimento em direção às gradações superiores demanda tempo e recursos, algo que nem sempre temos disponível, e é também por isso que os profissionais com maior grau de conhecimento são tão raros de se encontrar.

Além disso é extremamente contra-producente colocar pessoas com conhecimentos superiores para executarem tarefas para elas consideradas simples ou enfadonhas, e é ainda pior colocar pessoas com conhecimentos inferiores para executarem tarefas para elas consideradas complexas.

O ideal é montarmos equipes heterogêneas, compostas por pessoas com distintos graus de conhecimento, cada uma executando as tarefas adequadas ao seu momento. Desta forma criamos espaço para acomodarmos mais pessoas, damos pista para todos evoluírem seus conhecimentos, e ainda criamos o senso de unidade e pertencimento, onde cada indivíduo colabora para o crescimento dos demais.

O mais interessante de tudo isso é que ao mergulharmos profundamente nas tarefas que compõem as atividades, perceberemos que a quantidade de tarefas que exigem graus de conhecimento inferiores superam em muito a quantidade de tarefas que exigem graus de conhecimento superiores, deixando a solução para o problema de apagão de talentos mais próxima da base da pirâmide do conhecimento do que do topo, uma região onde podemos acelerar a formação de talentos através de cursos técnicos focados, especializados, e de curta duração, e de programas internos de compartilhamento de conhecimentos.

Os programas de capacitação especializada para a base da pirâmide precisam estar no core de todas as empresas, pois removem os entraves financeiros para a formação acelerada de novos talentos, reduzem os custos e aumentam a competitividade das empresas no mercado, trazem diversidade para o quadro de colaboradores e oxigênio de novas idéias para a empresa, e ainda contribuem para mudar para a melhor a vida de inúmeras pessoas que buscam por uma oportunidade para iniciarem as suas carreiras profissionais.

Dito isso, é importante lembrarmos que a natureza não dá saltos, mas não é proibido correr. Por isso é bom começarmos logo a “plantarmos” para termos o que “colher” logo ali na frente.

Anterior
Anterior

Não se trata de sorte

Próximo
Próximo

A modernização necessária